sexta-feira, 27 de junho de 2014

Impressões: A senhoria, de Roald Dahl


A senhoria é um conto policial que narra a chegada de Billy Weaver à cidade de Bath, na Inglaterra. Sem conhecer a cidadezinha, e chegando tarde da noite, ele resolve seguir a recomendação de um cidadão local e se hospedar no hotel próximo. Enquanto ele segue para o referido hotel, se depara com uma pensão aparentemente comum e pacata, mas que exercia sobre ele uma atração inexplicável. Imbuído de uma vontade quase inconsciente, ele resolve se hospedar naquele lugar.


O que gostei:
- A naturalidade da escrita é algo fantástico. Simples, direta e certeira.
- As descrições fazem muito bem o seu papel. Tanto a ambientação quanto os personagens se tornam bem familiares para o leitor rapidamente.
- O talento para desenvolver a ideia central na cabeça do leitor sem explicitar os fatos é notável. 

O que não gostei:
- Nada.

Considerações finais:
É difícil falar mais sobre um conto tão curto, mas A senhoria merece uma indicação reforçada, pois premia o leitor com uma escrita leve, um desenvolvimento rápido e uma trama intrigante, que deixará ao leitor, após os 10 minutos de leitura, um desejo de "quero mais".




terça-feira, 17 de junho de 2014

Impressões: Revista Trasgo #2


A leitura da Revista Trasgo 2 foi concluída já faz um bom tempo, mas por motivos diversos, acabei não fazendo meu comentário aqui. Ontem descobri pelo facebook que a edição 3 já está disponível, e isso me lembrou de vir aqui e tecer minha opinião sobre a segunda edição. Vou seguir o modelo do post que fiz para falar da REVISTA TRASGO #1, me atendo a tecer um breve comentário sobre cada conto. Fico feliz de saber que a iniciativa está dando certo e rendendo mais edições.

Trasgo #02

A revista começa com Rosas, da Ana Lúcia Merege, e devo dizer que colocá-lo como primeiro foi uma bela escolha do editor, pois foi só eu terminar de ler o conto e parti avidamente para os seguintes, de tão empolgado com a qualidade. É uma história simples e com final imprevisível; demonstra que a autora domina uma sutileza na escrita bastante incomum. Não bastasse isto para recomendar, a composição do texto e linguagem são fenomenais, feito para todo tipo de público. RECOMENDADÍSSIMO.

O conto seguinte é Cinco Bilhões, de Victor Oliveira de Faria. É um conto de ficção científica passado num mundo, supostamente no fim da sua vida, dominado por máquinas - orgânicas ou não - conscientes que buscam uma maneira de salvar a estrela que ilumina o planeta ou criar um jeito de levar a população para um planeta diferente. Eu sempre torço o nariz para histórias de viagens no tempo, mas o autor não inventou maiores estripulias e se ateve a criar uma história coerente com o paradoxo temporal, o que achei muito bom.

Hamlet: Weird Pop é o conto de  Jim Anotsu, e trata de um diálogo sobre a realização de uma peça teatral baseada em Hamlet, entre a mente idealizadora do espetáculo e um "advogado" do além, que surge para impedir que aquilo ocorra. A linguagem é bem trabalhada - e quase rebuscada - mas não atrapalha o entendimento do texto; o que complica mesmo é a quantidade de referências utilizadas pelo autor, que não se resumem só a Shakespeare. Não peguei algumas - ou várias, não lembro tão bem - e acredito que o conto não será tão bem apreciado por quem não tem essa carga cultural para fazer as relações necessárias.

Código Fonte, de George Amaral, nos oferece uma literatura de muito bom gosto. Uma trama sobre confusão de identidade, com um quê de suspense e linguagem rápida (o texto é curto, inclusive). Uma ficção de qualidade excepcional, que - não sei dizer a razão - me lembra muito H.P. Lovecraft.

A maldição das borboletas negras é o penúltimo conto, escrito por Albarus Andreos. O conto possui uma escrita agradável e poética, de um esmero singular. Infelizmente é algo que canibalizou a minha leitura; o estilo foi algo tão marcante, que a história em si não prende e confesso que foi o único conto que precisei reler para escrever esse post, pois não me lembrava de NADA do conto.

O homem atômico encerra a revista, com a escrita leve de Cristina Lasaitis. Com uma escrita intermediária entre um artigo de jornal e um causo ouvido em meio a um passeio na feira, a autora nos apresenta, de forma até familiar, a história de um lunático de rua que cativa a comunidade local com suas histórias de conspiração e ciência no regime militar (sim, é um conto urbano passado no Brasil!!!). Uma boa escolha para fechar a edição número 2.




segunda-feira, 16 de junho de 2014

Impressões: A bússola de ouro, de Philip Pullman


Enrolei bastante para começar a ler A bússola de ouro, exatamente pelo mesmo motivo que sempre apresento para adiar as leituras de fantasia: se tratar de uma série. Pois o adiamento teve seu papel, mas uma hora ele precisava acabar, né? E finalmente pude iniciar a aventura  criada por Philip Pullman. Depois da sinopse, fica meu comentário sobre o primeiro livro da trilogia As Fronteiras do Universo.


A Bússola de Ouro

Quando Roger, amigo de Lyra, desaparece, ela e seu daemon, Pantalaimon, resolvem procurá-lo. Viajam para os reinos frios do Norte, onde urso de armadura e bruxas-rainhas voam pelos céus congelados.
Lyra possui um aparelho que auxiliará na missão - caso ela consiga decifrar suas mensagens misteriosas. Mas o equipamento contém segredos assustadores sobre a viagem e os perigos que os esperam em mundos distantes.

Esta sinopse é exageradamente vaga, mas a informação contida nela é verdadeira. Começamos a aventura conhecendo Lyra e Pantalaimon, seu dimon - uma materialização espiritual na forma de diversos animais - na Universidade de Oxford. Descobrimos que é uma garota esperta, levada e curiosa, e numa de suas travessuras acaba tomando parte de uma caçada onde o misterioso aletiômetro, e talvez ela mesma, em dado momento da história,  se tornam o alvo de cobiça por sujeitos proeminentes da política mundial.

O livro nos mostra a corrida de Lyra para entregar o objeto a salvo para seu tio no pólo norte, e desenvolve a trama mediante às descobertas feitas pelo meio do caminho, envolvendo ciganos, bruxas e uma raça de ursos humanóides guerreiros. A história não se conclui, ficando para o final um novo início,obviamente que só será visto no volume 2 da trilogia.

O que gostei:
- A escrita do autor é bastante fluída, e o vocabulário sem rebuscamento ajuda na velocidade de leitura.
- Os personagens são bem definidos, e a trama segue com bastante naturalidade.
- As poucas diferenças entre o mundo fantástico e o nosso mundo são apresentadas pelo narrador impessoal ou por diálogos na trama, e sempre que algo precisa ser lembrado, há uma menção, facilitando o entendimento para leitores mais novos.

O que não gostei:
- Algumas cenas são exageradamente rápidas, enquanto outras se alongam mais que o normal (apesar de não ao ponto de ser algo arrastado), deixando o ritmo muito irregular.
- Lyra possui a síndrome do Batman, que força o escritor, para evidenciar a esperteza dela, a deixar os outros personagens inexplicavelmente burros ou no mínimo inocentes.
- Após a chegada ao centro de pesquisa (cerca de 60% do livro), o enredo se recheia de inúmeras coincidências meticulosamente colocadas na trama para fazer o caminho de Lyra se abrir à frente dela. Sendo um livro infantil, isso até pode ser relevado, mas chegou uma hora em que eu parei e disse: OK, JÁ SÃO COINCIDÊNCIAS DEMAIS!!! E mesmo assim elas continuavam a ocorrer. =(

Considerações finais:
Lido sob olhos despretensiosos, A bússola dourada é uma obra espetacular, de linguagem leve e enredo rápido, capaz de cativar qualquer tipo de leitor. Há um fundo de pesquisa científica e crítica à instituições religiosas, mas que não fazem muito sentido, dada a pouca atenção que a trama lhe reserva. O livro é bom, mas como previsto, não pode ser lido e concluído sem o(s) próximo(s) volume(s).