domingo, 12 de outubro de 2014

Impressões: Revista Trasgo #4


Fechando mais uma leitura da revista digital Trasgo, deixo aqui minha opinião - curta, mas sincera - sobre os contos presentes na última edição, de número 4. Vale lembrar que achei alguns erros de digitação nesta edição; não lembro de ter visto isso nas anteriores, mas mesmo assim foram apenas 3 ou 4, nada que prejudique a leitura.

Trasgo 04 - Capa - mini

O conto que abre a edição é de autoria de Gerson Lodi-Ribeiro e se chama Rendição do serviço de guarda. Esse é o conto mais longo da revista. Pelas palavras do autor, somos puxados para um universo futurista onde a ideia dos deuses astronautas é uma realidade, juntamente com um tipo de darwinismo galáctico que descambou na inevitável guerra entre dois grandes grupos de espécies de seres vivos inteligentes. A construção do conto é muito focada no cenário, relacionando a linha de tempo de alguns personagens com o desenvolvimento da raça humana na Terra, e aproveitando esse momento para expor algumas discussões filosóficas interessantes. O espaço para dar andamento ao enredo acabou sendo muito curto, se comparado ao texto do worldbuilding, mas foi executado de forma coerente e satisfatória, apresentando o problema e a solução sem muitos rodeios. Por não ser fã de FC Hard, demorei um pouco para engrenar a leitura, devido ao começo ser bastante puxado no gênero, mas depois da metade a escrita se torna bem mais rápida. Recomendo, principalmente para os fãs de FC hard.

O conto seguinte é Vivo, Morto. X.,  de Érica Lombardi. Uma história curta, urbana e, em certo grau, abstrata. Conhecemos Guilherme, um cara babaca, mas de bom coração, que topa com uma criatura sobrenatural prontinha para atormentar sua cabeça com um jogo psicológico muito perigoso. A fantasia sobrenatural do conto gira em torno da criatura, que aparece sobre a forma de uma garota chamada Ana, e desaparece assim que ela sai de cena. A autora tem uma voz bem pessoal, vale a pena memorizar o nome para uma busca futura.

O terceiro conto é Isaac, de Ademir Pascale, e foi para mim a grande decepção da revista. Cenário clichê, cenas despropositais e que não fazem sentido definem o conto. O lado bom é que o autor tem uma habilidade monumental em criar suspense, e eu acabei me interessando e lendo mais e mais, mesmo com as incongruências que apareciam a todo momento. Os elementos do conto também mostram que o autor sabe escolher peças-chave para montar uma história cativante, como o cenário apocalíptico e os habitantes com seus costumes hediondos, mas a falta de algum trabalho para diversificar esses elementos deixou tudo muito na mesmice, e os furos de roteiro deixaram a impressão de ser uma leitura para adolescentes, nada além disso.

Mary C. Muller escreve o conto seguinte: Estive assombrando seus sonhos. Conhecemos Felipe, um garoto com mediunidade, e sua rotina de convivência com fantasmas, vampiros e afins num magnífico conto infantil. O enredo trata de uma alma penada que aparece pedindo socorro de uma maneira diferente, e o garoto logo precisa da ajuda de outros seres sobrenaturais para resolver o problema da garota-fantasma. Com exceção da caracterização de Felipe com sua família e cotidiano "humano" no início do conto - que achei de um tom negativo, maduro e desnecessariamente complexo - a história é sensacional, muito divertida e recomendada para qualquer um acima de 8 anos.

O conto seguinte é Arca dos Sonhos, de Fred Oliveira. Confesso que não gostei muito, mas a escrita do autor é muito refinada; o enredo é que não tinha uma intenção muito clara do que pretendia passar. Embarcamos numa space opera com um tom de "aventura naval" bastante óbvio e emocionante, mas sem muito sentido. A tal arca parte com sua tripulação que faz parte de si, integrada mental e organicamente pela tecnologia, em busca de um destino que não se deixa claro o quê (nem para o leitor nem para os personagens), encabeçada pelo capitão sonhador, que se mantém fiel à sua vontade de realizar seu desejo nem que precise passar a eternidade inteira na busca. Talvez tenha faltado algumas páginas para estender mais o enredo e esclarecer uma coisinha ou outra, porque de resto, o conto é muito bom.

Fechando a revista com chave de ouro, Jessica Borges nos apresenta No labirinto. Conto de fantasia onírica, que já deixei claro no post da Revista Trasgo #3 ser um tema que gosto DEMAIS, que nos leva ao dia-a-dia de Sarah, ou melhor: apenas a parte do dia em que ela está dormindo. Com uma trama inspirada em um filme que eu nunca vi, Jessica desenvolve um lado emocional de maneira espetacular, com um enredo simples e direto, uma linguagem que prende o leitor e uma habilidade maravilhosa de surpreender. Nota 10, parabéns para a autora.






2 comentários:

  1. Olá!
    Bom, mais cedo ou mais tarde algum errinho ia acabar passando. Vou te contar que essa edição foi meio corrida no final! Já estamos trabalhando na Trasgo 05 para evitar errinhos na próxima edição. ;)

    Muito obrigado pela resenha, você não imagina como me ajuda enxergar a revista por outros olhos.
    Abraço!

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