sábado, 4 de outubro de 2014

Minha vida (de leitor) comparada



Um texto rápido só para cortar a enxurrada de resenhas postadas consecutivamente, e o assunto é a interação leitor-resenhista-autor. Recentemente entrei num grupo de resenhistas, com intuito de fomentar a produção nacional resenhando e divulgando títulos independentes, e até agora tudo tem dado certo, mais até que o imaginado, e as intenções são de melhorar ainda mais. Neste grupo, passei a ter contato não só com a resenha, como se dá lendo um blog ou caderno de jornal, mas também com o resenhista, e olhando o processo de análise e redação de cada um - são vários, é bom lembrar - pude fazer uma análise do meu próprio estilo de resenhar.

A primeira questão a se apontar é logo a mais polêmica: notas são necessárias? Para alguns, sim, para mim, não. A resenha serve para avaliar o livro em vários aspectos e concluir se vale indicar ou não a leitura. E tudo isso se expressa no próprio texto da resenha. Dar uma nota com base no que se diz ser “um fechamento” da resenha, para mim, é um despropósito, uma vez que o fechamento serve para considerar tudo que foi dito, e um número não é capaz de fazer isto. Mesmo considerando notas isoladas para cada critério de avaliação, o numeral não faria jus ao livro. Como exemplo, vamos imaginar que nota seria dada apenas no critério ‘Personagens’ nos seguintes casos: O livro chega no clímax com uma mãe doando um órgão para o filho necessitado. O livro remete ao amor da mãe em diversas passagens no livro, sejam longas ou curtas, densas ou triviais, sempre enaltecendo o amor que sente pelo filho, sem haver no enredo uma cena emblemática que evidencie esse amor maternal tão pujante.

Muitos resenhistas que vejo, não necessariamente os que fazem parte do grupo citado anteriormente, considerariam uma dessas expressões do autor como tendo qualidade e a outra não, no que tange a desenvolvimento da personagem Mãe. O ponto de vista do resenhista não é o importante, ele pode exaltar o segundo caso ou o primeiro, o leitor da resenha vai analisar a opinião e decidir se concorda com o critério desenvolvimento de personagem. Mas quando existe uma nota para o critério, a coisa muda. Se o resenhista a aprecia livros que se encaixem no caso 1, terá que dar uma nota baixa caso o livro lido apresente o caso 2, e vice-versa. E o parâmetro do leitor passa a ser a nota, sem saber realmente se aquele numeral representa a qualidade do livro individualmente ou num contexto comparado. Claro, há a justificativa de que a nota é só um complemento, mas como pode ser um complemento à resenha, algo que restringe o seu entendimento?

A segunda e última coisa que quero deixar registrada aqui no post é, sim, bastante associada ao grupo que faço parte. É a relação autor-resenhista. Ao meu ver, a resenha é a visão de quem escreve, e num contexto ideal, deveria refletir fidedignamente a impressão do leitor-resenhista. Quando se lê um autor estrangeiro ou falecido, há uma razão para não incluí-lo na equação da resenha, mas no meu caso, que estou fazendo resenha de um livro nacional, e ainda por cima independente, o contato com o autor é algo não só possível, mas recomendado! Por não ter prazos a cumprir até que a edição seja impressa, eu como resenhista me sinto à vontade para redigir calmamente, e buscando o autor para uma conversa livre sobre a obra. E não é isso que vejo em 99% dos leitores, blogueiros, jornalistas e vlogueiros literários; há uma aura sagrada que limita a percepção do resenhista sobre a obra exclusivamente nas palavras do livro. É um pecado capital evitar o autor para emitir uma opinião “livre de influências”, como se o autor, num bate-papo sobre seu livro, só possa ser desonesto ao ponto de passar informações de maneira a manipular o andamento da resenha? Não, assim como o inverso também não é pecado algum. Em minhas análises, me sinto satisfeito em dizer que já consultei autores nacionais quando da elaboração de resenha para um de seus livros. E em livros internacionais, se houver a oportunidade, também farei. Acredito que este seja um traço de orgulho para mim, pois evito preâmbulos introspectivos, buscando em mim respostas para minhas próprias perguntas, e ainda incremento um pouco de honestidade da resenha, já que o leitor pode ter uma informação do livro dada pelo autor, e que talvez eu não fosse capaz de captar na leitura.

Por hoje é só, e que venham para minha lista de leitura mais livros escritos por autores amigáveis.

Casos de informações que consegui através das autoras Vanessa Nilo e Lívia Stocco, em livros já resenhados aqui no blog:






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