sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Impressões: O oceano no fim do caminho, de Neil Gaiman



Para fechar o mês de Janeiro, a mente criadora de Sandman: Neil Gaiman e seu mais recente livro, O oceano no fim do caminho. Vamos à sinopse:

O Oceano no Fim do Caminho

Este livro é tanto um conto fantástico como um livro sobre a memória e o modo como ela nos afeta ao longo do tempo. A história é narrada por um adulto que, por ocasião de um funeral, regressa ao local onde vivera na infância, numa zona rural de Inglaterra, e revive o tempo em que era um rapazinho de sete anos. As imagens que guardara dentro de si transfiguram-se na recordação de algo que teria acontecido naquele cenário, misturando imagens felizes com os seus medos mais profundos, quando um mineiro sul-africano rouba o Mini do pai do narrador e se suicida no banco de trás. Esta belíssima e inquietante fábula revela a singular capacidade de Neil Gaiman para recriar uma mitologia moderna.

Diferente de muita gente, não sou arrebatado por tudo que o Neil Gaiman escreve, embora eu gostar minimamente de tudo que leio dele. Talvez a 'primeira vista' - Sandman - tenha marcado demais minhas expectativas, e sempre que eu busco algo novo dele, vou achando que vai ser tão bom quanto. Infelizmente esse desejo meu nunca se concretizou. Oceano é o livro mais pessoal do autor, e de fato há um realismo denunciante nas passagens descritivas, mas a declaração de Gaiman sobre sua relação com o livro pode ter um peso maior nesta percepção, já que, em MUITOS aspectos, a narrativa se vale dos elementos comuns que fizeram Neil Gaiman ser quem é. A tristeza quase apática do enredo, gatos e três mulheres de importância cósmica, é preciso algo mais para Gaiman misturar e criar uma ótima história? Talvez portas.

Oceano carrega o leitor para uma memória britânica bucólica do menino sem nome, e a habilidade de escrita de Neil Gaiman evoca rapidamente aquela identificação demasiadamente sentimental que nos leva a reflexões e memórias próprias. O nível de semelhança, entretanto, pode se tornar também o ponto fraco da narrativa. As particularidades da personagem principal são tão específicas que podem não surtir efeito nas pessoas que não passaram por situações parecidas. Neil Gaiman fez o livro para adultos leitores, aqueles que nutrem desde a infância o amor pelas histórias maravilhosas da ficção e possuem a mente criativa dos entusiastas literários. E quem não é assim, vai gostar do livro? Provavelmente, afinal não gostamos apenas dos presentes destinados a nós.

O plot, que é uma mistura espiritual de Coraline e Caçadas de Pedrinho, nos leva à construção simples de Gaiman, sem muitos rodeios linguísticos, mas satisfatória em criar aquela atmosfera cinzenta. Suicídio, possessão, fantasia e sonhos que escapam do território onírico são apenas alguns elementos na grande aventura que espera quem tem coragem de revisitar a própria vida.

O que gostei:
- Atmosfera do enredo criada com maestria
- Personagens interessantes
- Muita informação subtendida

O que não gostei:
- O livro tem muita fantasia em meio a muita realidade. O desnorteamento é grande em algumas passagens
- Algumas atitudes de personagens são muito extremadas. Apesar de não ser irreal, surge algum desconforto ante reações tão inesperadas

Considerações finais:
A ruazinha misteriosa é o único cenário do livro, mas por suas bordas e entremeios, o menino introvertido e o leitor vão se descobrir muito mais fracos do que imaginavam. Sim, fracos; Oceano quebra aquela quase obrigação de seguir a jornada do herói dos livros de fantasia. Dizer mais que isso seria tentar preparar alguém para o imprevisível. Mergulhe no oceano.




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