segunda-feira, 23 de março de 2015

Impressões: Eric Novello


Provavelmente este é o penúltimo post sobre contistas brasileiros. Desta vez o agraciado é Eric Novello, autor com bastante tempo de estrada e uma notoriedade cada vez maior no cenário nacional. Fãs e recomendações de seus livros permeiam boa parte do quadrante literário da internet tupiniquim, e foi com grande entusiasmo que escolhi ele para entrar no grupo de autores desta extraordinária seção do blog. Os três contos comentados abaixo foram adquiridos pelo programa Kindle Unlimited da Amazon.




O dia da besta foi o primeiro conto lido e já bastou para me impressionar. O aspecto que mais preciso ressaltar positivamente aqui é o ritmo: é simplesmente perfeito! A história se adequa perfeitamente no formato de conto e até a deixa no final do livro, que serve para o leitor imaginar outras obras derivadas do incidente com "lobisomens", não extrapola a necessidade do conto e não gera aquele vazio (muitas vezes intencional) que faz o leitor precisar de algo mais para completar a história. O estilo de escrita me decepcionou: as descrições são vagas muitas vezes e a narração é pouco inspirada, chegando a ter várias frases mal construídas. As personagens são outro ponto forte do conto. O narrador impessoal que leva Tunay e Carenza na aventura nos presenteia com inúmeras personalidades bem construídas, com caracterização física e atuação pertinente, o que consequentemente rendeu ótimos diálogos. Entre as histórias regionais que tenho lido, este conto foi o que melhor trabalhou o seu cenário, e pude construir a imagem ambiental sem problemas, o que não ocorreu em algumas histórias que li, passadas em Porto Alegre e Curitiba, por exemplo (como o Rio de Janeiro, cidade do conto, também não as conheço). Indico a leitura a todos que queiram se aventurar por um Brasil Imperial Steampunk de qualidade.





De fumaça e sombras é o segundo conto, e confesso que ele me deixou surpreso. O estilo de escrita é muito diferente do conto anterior, mas é justamente o que eu esperava do autor, devido aos comentários que li. A história de magia fica quase em segundo plano perante os dilemas do protagonista. Tanto a estrutura fictícia quando o enredo são abordados de forma vaga, o que pode desagradar a muitos, mas descortina uma maneira alternativa de leitura:o leitor se põe dentro do conto; ele não aprende as leis da magia e a dinâmica do cenário pela narrativa porque ele já está lá dentro, e supostamente deveria conhecer. É aí que entra a imaginação, preenchendo as lacunas de uma maneira que o que já foi lido se complementa com o que se está lendo. Não é uma abordagem muito comum, e a narrativa beira a poesia, causando no leitor - ele goste ou não da leitura - uma experiência diferenciada.






O cheiro do suor foi o terceiro conto e foi ele que acertou onde eu vinha mirando desde o primeiro conto. É nele que eu vejo tudo que os fãs de Novello diziam tanto em suas recomendações. O estilo é ainda mais vago que os contos anteriores, mas construído tão bem e de tal maneira que o objetivo da leitura se perde na observação macro e a imersão é total. A narração é feita pelo próprio protagonista, e as descrições - e tudo mais - estão sempre atreladas ao que ele está sentindo. A palavra-chave do conto é esta: SENTIR. Sendo este o conto que mais gostei, a ironia se apresenta quando descubro que não serei capaz de destrinchar a leitura em poucas ou muitas palavras. Para entender, é preciso sentir o cheiro do suor.








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