sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Impressões: Gabriel, de Claudio Parreira



Após longo hiato, finalmente uma resenha. O livro é Gabriel, do autor Claudio Parreira.




Tendo como companheiros um ex-poeta bêbado e filosófico, uma mocinha nada virtuosa e centenas de retratos de Marilyn Monroe, o leitor descobrirá em Gabriel, romance de Claudio Parreira, que nem tudo é o que parece, que o Sagrado muitas vezes veste as calcinhas do Profano e que o pecado, nem sempre, conduz ao inferno.
2.011 anos depois da sua mais importante missão, o anjo Gabriel é mandado novamente à Terra pelo Supremo com mais uma incumbência.
Gabriel, porém, não é mais o mesmo. Os homens mudaram. Ao anjo não interessa mais as coisas do Céu, e a Terra com a qual se depara parece ter sido abandonada definitivamente por Deus.
Dividido entre a fé e a indignação, o desejo e a raiva, Gabriel vaga por uma cidade sombria e em constante mutação, experimentando — e também curtindo — os absurdos da modernidade.


Aqui é bom dar uma ideia geral do plot, que na sinopse não chegou a ser explicado: Deus resolve mandar Jesus novamente ao mundo dos homens e precisa que Gabriel vá fazer a anunciação à Maria, uma prostituta de gênio forte e vivência urbana muito grande, escolhida pelo Supremo para a maternidade. Num cenário tão avesso à missão, Gabriel passa por transformações e a simples tarefa se desenrola em uma trama muito inesperada.

A narrativa é cômica, narrada em terceira pessoa e com palavreado leve, fácil de acompanhar e que proporciona a rápida passagem de páginas. Por ser uma fantasia urbana, o estilo casa bem os trejeitos brasileiros de agir, falar e pensar das personagens (divinas ou humanas) com o cenário apresentado para a trama: uma cidade sem nome, mas cujos locais podem ser facilmente identificados por qualquer um (igreja católica, apartamento baixa renda, clínica de reabilitação, etc). A melhor parte, no entanto, está nos diálogos, é na dinâmica das conversas que achei os momentos mais engraçados da trama, e inclui-se aí os monólogos mentais de Gabriel. Um trabalho sensacional de caracterização e humor ácido.

Cada personagem é apresentado com descrições físicas precisas, mas antes de chegar no meio do livro é perceptível que elas nem se fazem necessárias para o entendimento, de tão diferentes e marcantes que são as ações e personalidades. Assim, as descrições servem mais como referências para que o leitor imagine as figuras a partir de alguém conhecido (e acredite, por mais bizarros que os personagens sejam, sempre dá para atrelar eles à alguém do dia-a-dia). O fato de serem poucos personagens é um ponto a favor nesse sentido; Gabriel, Aldo, Maria, Embaixador e os poucos mais que fazem a história são suficientes para segurar a atenção do leitor e tirar riso de diversas maneiras.

As descrições são vagas e focam em elementos soltos de cenário ou vestuário. No caso das personagens a ausência de detalhes se compensa pela interação, mas na parte do ambiente há um extremo espaço vazio que precisa ser imaginado pelo leitor ou ficará vazio mesmo. Enquanto lia, não extrapolava nada do texto, e ao terminar fiquei com uma impressão bem peculiar sobre a obra. Da mesma forma que há livros fáceis de associar à mídia do cinema, a falta de cenários detalhados (e próprio teor da trama) me fizeram crer que Gabriel seria magistralmente bem adaptado para uma peça teatral.


O que gostei
-Personagens psicologicamente bem definidos, e sempre peculiares
-Linguagem simples, fácil de prender o leitor

O que não gostei
-Supremo e Vermelho são duas grandes decepções

Considerações finais
Gabriel é um livro que confirma o talento de Claudio Parreira, seu tom cômico e incrível trabalho de construção de personagens. A trama não tem pretensões grandiosas, e entretém com facilidade o leitor, apresentando um tema, que a princípio pode parecer sério, sem nenhum tipo de delicadeza; um livro escrachado e que não se leva a sério desde a primeira frase.






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